O CONSTRUTIVISMO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA
O construtivismo não é um método para a prática pedagógica. No entanto, o construtivismo contribui para o entendimento da forma como ocorre o aprendizado, e, nesse sentido, influencia na definição dos objetivos da educação formal e na formulação da intervenção pedagógica.”
Ao introduzirem uma linha de investigação evolutiva no campo da escrita, FERREIRO e TEBEROSKY trazem a possibilidade de melhor se entender a questão específica da escrita, até então ausente das pesquisas feitas pela Linguística, pela Psicologia, pela Pedagogia.
FERREIRO oferece-nos um instrumental de possibilidades de ver a criança no seu processo de aquisição da escrita, de verificar o que ela sabe e o que ela não sabe, porque é no que ela ainda não sabe, no que ela pode e tem condições de fazer com ajuda, com interferência do adulto, que o professor vai atuar.
Nesse sentido, a descrição evolutiva ultrapassa o nível do diagnóstico e da avaliação inicial e contribui efetivamente para informar o desenho de situações de ensino/aprendizagem.
Muitas vezes a criança pergunta: “Está certo?”. E o professor responde: “Está.”. O que a criança procura ao fazer suas perguntas? O que ela está querendo de nós, professores?
Ela está querendo compartilhar a sua escrita, o que significa também o reconhecimento de uma imposição social da forma ortográfica.
A escrita tem um valor social exatamente porque pode ser compartilhada. Portanto, escrever, por exemplo, pato com apenas a e o não é algo que possa ser compartilhado.
A aprendizagem da leitura e da escrita não se dá espontaneamente; ao contrário, exige uma ação deliberada do professor e, portanto, uma qualificação de quem ensina.
Exige planejamento e decisões a respeito do tipo, freqüência, diversidade, seqüência das atividades de aprendizagem.
Mas essas decisões são tomadas em função do que se considera como papel do aluno e do professor nesse processo; por exemplo, as experiências que a criança teve ou não em relação à leitura e à escrita. Incluem, também, os critérios que definem o estar alfabetizado no contexto de uma cultura.
Claro está que o ponto zero desta reflexão, seu ponto de partida, encontra-se no valor determinante que é dado por VYGOTSKY e pelos vygotskianos à interação social e, logo, no caso da escola, às intervenções pedagógicas e à instrução na construção de todo e qualquer conhecimento, incluídos o uso e o conhecimento sobre a escrita.
Talvez seja desnecessário relembrar, (…) que a marca principal, o traço diferencial da teoria Vygotskiana da aprendizagem em relação a outras teorias da aprendizagem ou do desenvolvimento seja justamente a crença de que é na interação interpessoal que primeiramente se constrói o conhecimento que virá a ser intrapessoal (desenvolvimento real, autonomia, apropriação).
Lembremos que a questão que aqui nos ocupa, no momento, é o que, para VYGOTSKY, faz da escrita não somente uma grafia, um gesto que marca, representando um som da fala, mas, além disso, uma linguagem particular, diversa da fala e capaz de significar.
Aprender a escrever, alfabetizar-se, é mais do que aprender a grafar sons, ou mesmo, mais do que aprender a simbolizar graficamente um universo sonoro já por si mesmo simbólico.
Aqui, aprender a escrever é aprender novos modos do discurso (gêneros); novos modos de se relacionar com interlocutores, muitas vezes, virtuais; novos modos de se relacionar com temas e significados; novos motivos para comunicar em novas situações. Aprender a
escrever é, aqui sim, construir uma nova inserção cultural.
Assim, na construção da escrita, a criança tem muito mais a aprender do que as letras: uma infinidade de gêneros viabilizados pela escritura se abrem à criança quando ela começa a adentrar o mundo da escrita. Uns mais complexos e abstratos do que outros.”